domingo, 4 de março de 2012

Egotrip e a sua Viagem ao Fundo do Ego


Cládio Marcos
Radialista e Jornalista

Era uma sábado à noite, verão de 2012 em Brasília, de repente recebi uma ligação de um grande amigo de Minas Gerais – o famoso Dr. Rogério. A menção “doutor”, claro, é uma brincadeira já que ele é um “Operador do Direito”. Advogado mesmo, sabe. Formado com OAB e tudo. Um sujeito engraçado, inteligente e que também compartilha do gosto pela música. Ele estava em uma festa com amigos e queria de todo modo se lembrar do nome daquela banda de rock dos anos 80, formada por músicos renomados e que tinha o filho do Gilberto Gil, Pedro Gil como baterista e teclados. Outros nomes célebres como o baixista Arthur Maia (Baixo, Vocais e Teclados), Nando Chagas (Vocais, Guitarra e Teclados), Francisco Farias (Guitarra e Teclados), José Rubens (Saxofone e Teclados) faziam parte da banda. Aliás, trágica lembrança, afinal a banda Egotrip, chegou ao fim após a morte de Pedro Gil, em um acidente de carro em 1989 no Rio de Janeiro. Em três minutos lembramos da Egotrip, e imediatamente veio à memória a música Kamikaze, uma balada, um dos dois únicos grandes sucessos da banda. Atípica para os padrões, afinal a música tem exatos seis minutos de duração, com introdução de um minuto, se desenvolve com muita melodia, muito bem elaborada. O grande hit do Egotrip foi “Viagem ao Fundo do Ego”. Uma guitarra com uma pegada bem rock and roll. Tornou-se um grande sucesso após ser incluída na trilha sonora da novela Mandala da Rede Globo. Infelizmente a banda acabou pouco tempo depois, mas certamente está registrada na história do rock Brasil. O disco foi produzido por Luiz Carlos Maluly que produziu nomes como Camargo Mariano, Banda Metrô e Banda RPM. O disco foi sim, feito às pressas, e por isso mesmo só tinha oito faixas. Mas, neste contexto, isso agora pouco importa.

Curiosidade
(?) Só por curiosidade, você sabe o que significa a palavra “Egotrip” que deu nome a banda? Não vou me atrever a explicar de forma grosseira, por isso mesmo, recorri ao blog Crônicas Atípicas – não consegui identificar o autor, mas que o crédito seja dado – para esta definição. Segundo ele, “é um estilo de escrita”. "Ao pé da letra: é a junção de duas palavras Ego (do latim, “eu”) e trip (do inglês, “viagem”), ou seja, é basicamente uma viagem ao ego, uma viagem do eu”, define o blog. Que prossegue: “Na literatura, geralmente algo que você escreve se torna uma Egotrip quando você começa tratando de algo específico e, de repente, começa a falar sobre você, seja fictício ou não. O que importa é que você esteja no meio. Se aconteceu ou não, tanto faz”. O que vale é narrá-lo em primeira pessoa. Uma Egotrip não é necessariamente nostálgica, mas também pode ser, define. Gostei disso. Já passei por uma Egotrip algumas vezes escrevendo.

Poesia no Rock

Apesar das lembranças, o tema central deste blog não é a história das bandas, e sim a poesia existente nas letras do rock nacional. Este é o foco das nossas divagações aqui. Pela casualidade da ligação recebida, vou começar com a banda Egotrip e a sua “Viagem ao Fundo do Ego”. O trecho que principal que merece destaque aqui é este:
 
Explorador sem experiência, marinheiro de primeira viagem...

Embarquei de peito aberto levando só coragem...

Perdi tudo que eu tinha e o que eu tinha era só coragem...


Coragem pra enfrentar, frente a frente eu comigo...

Como se enfrenta um irmão no exército inimigo...


Coragem pra encarar, frente a frente eu no espelho...

Como se encontra um irmão que lhe nega um conselho...
 
A letra destaca a fragilidade trazida inevitavelmente pela inexperiência, que pode ser aplicada a qualquer área da vida. A coragem é o único item existente nesta bagagem mínima. Aliás, item de primeira necessidade. Coragem, ousadia, vontade, determinação são elementos que devem andar juntos neste momento.  “Coragem pra enfrentar, frente a frente eu comigo...” Digamos não ser uma tarefa fácil para aqueles que conseguem chegar a este ponto. A uma reflexão tão profunda sobre a sua própria vida, seus atos, sua conduta, seus exemplos, e principalmente, qual é a nossa verdadeira missão por aqui. Se olhar de frente no espelho e enxergar algo atrás daquela imagem que nós construímos, ou que nós projetamos para os outros, é fácil. Muitos fazem isso. Mas, olhar para a imagem que pode existir por trás deste avatar e um desafio pra poucos.  E por fim, “Como se encontra um irmão que lhe nega um conselho...” A letra enfim é de uma profundidade incrível. O rock nacional se consolidou e se tornou o que é, sobretudo a letras fortes e conteúdo reflexivo  como esta. Graças também a um contexto histórico-social de liberdade, rebeldia, discurso social e poesia que infelizmente hoje em dia se tornou tão raro as novas bandas.
Afinal, quem viveu o rock dos anos de 1980 dificilmente vai se render ao que é feito hoje, salvo, claro, as boas e raras exceções ! Ainda falaremos delas em outra oportunidade ! Vamos dar um Restart no lado musical do nosso cérebro !!
Até a próxima !!

7 comentários:

  1. Pena que a banda acabou, a musica viagem ao fundo do ego é linda e a letra de uma sensibilidade, o autor da letra tem uma visão mistica do eu interior e o que foi escrito no blog falou exatamente o que acontece com a busca interior. Parabens.

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  2. nossa, eu não lembrava de Kamikaze, qdo vc citou q lembrei, eu amava essa musica e tinha me esquecido dela,Maravilhosa.Obg por lembrar.

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  3. Olá Cláudio, você sabem quem tem os direitos de Viagem ao fundo do ego?

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  4. interessante a sua interpretação, eu tenho a minha que converge em alguns pontos com a sua mas diverge em outros, imagino que outras pessoas também tenham suas interpretações particulares, e provavelmente não existem duas interpretações idênticas, e isso não implica em certo ou errado, somente no poder da música de bater de forma tão pessoal à cada ouvinte, de forma que o ouvinte acaba se tornando quase que um co-autor, ainda que de uma versão que só ele exista internalizada dentro de si mesmo. é isso ai... :)

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  5. o que falar dos anos 80? quem viveu viveu, esses dias estava ouvindo o disco de egotrip e da banda nau verdadeiras obras primas....

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  6. o que falar dos anos 80? quem viveu viveu, esses dias estava ouvindo o disco de egotrip e da banda nau verdadeiras obras primas....

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